Denúncias da campanha de Jair Bolsonaro-PL dão conta de um possível boicote na veiculação das inserções de 30 segundos do candidato. Mas, como é possível apontar com precisão quantas inserções foram sonegadas
Em entrevista coletiva realizada na noite da última segunda-feira (24), o ministro da Comunicação Fábio Farias trouxe à tona a revelação de que, segundo ele, emissoras de rádio estariam sonegando inserções da campanha de Jair Bolsonaro. As emissoras, com prevalência na região nordeste, teriam deixado de veicular cerca de 153 mil spots de 30 segundos.
Segundo Farias, a cada 4 spots da campanha petista, as emissoras veiculariam apenas um da campanha de Bolsonaro. Se comprovada a denúncia, a eleição estaria seriamente comprometida em sua isonomia publicitária e, consequentemente, fadada a impugnação, tendo em vista a total falta de tempo para reposição dos spots sonegados.
O problema se agravaria ainda devido ao fato de que, no Nordeste, as principais emissoras de rádio e TV pertencem a famílias ligadas a políticos profissionais. Muitos destes políticos estão em campanha para a eleição do ex-presidente Lua-PT.
A apresentação da denúncia efervesceu as redes sociais e foi prontamente respondida pelo ministro presidente do TSE, Alexandre de Morais. Segundo o magistrado, a denúncia não apresentou dados consistentes e apenas relatórios apócrifos. Morais exigiu que a campanha de Bolsonaro apresente. Em 24 horas, provas que suportem as alegações criminosas sob pena de incorrer em crime eleitoral. Os autores da denúncia afirmaram que apresentarão as provas e todos os arquivos compilados nesta terça-feira (25), além dos nomes das emissoras cujas programações foram auditadas.
Como a campanha de Bolsonaro chegou aos números
A declaração de sonegação de mais de 150 mil inserções da campanha em emissoras de rádio chamou atenção pelo tamanho dos números envolvidos e, principalmente pela exatidão dos dados. Fábio Farias declarou que, os dados foram apurados a partir de duas empresas que auditaram as programações de mais de 4400 emissoras de rádio em todo Brasil e, através de algoritmos, conseguem rastrear e mapear a veiculação dos spots do candidato.
Na realidade, notícias de desequilíbrio na veiculação das inserções em emissoras de rádio já apareciam em grupos de Whatsapp e Telegram, onde funcionários de emissoras comentavam a falta dos spots que deveria ser disponibilizado em um repositório – espécie de site onde os mapas de mídia e arquivos são hospedados para download – Geralmente, em regiões mais distantes, uma emissora de maior porte baixa os conteúdos e as demais entram em cadeia para a transmissão.
Em campanhas municipais, os partidos entregam diariamente os arquivos gravados em pendrives ou mídias físicas para que as emissoras veiculem.
Para mapear os conteúdos, a campanha de Bolsonaro contratou as empresas Soundview e Audiency Brasil Tecnologia. Ambas com forte presença no mercado publicitário onde prestam serviços para grandes Agências e empresas que investem milhões em publicidade Brasil à fora.
No portfólio de clientes da Soundview estão empresas como a Petrobras, Oi, Monsanto, Itaipava, Centauro, Carrefour, Honda, Claro, Microsoft, OLX, Decolar.Com, Crystal, Epson e Ambev. Empresas que são anunciantes gigantescos e investem bilhões de Reais em publicidade anualmente.
Já a Audiency Brasil Tecnologia na revela seus principais clientes, mas presta serviços para agências de propaganda, artistas musicais e emissoras de rádio e TV. Em seu perfil no Linkedin, a empresa aponta que através de suas plataformas é capaz de rastrear em tempo real anúncios e conteúdos de mídia de interesse dos clientes.
Assim, a campanha pode rastrear todas as veiculações utilizado ferramentas amplamente conhecidas e adotadas por importantes empresas nacionais e internacionais para monitorarem seus contratos de mídia. Além disto, as próprias emissoras são obrigas por lei a arquivarem toda programação veiculada em um período de 30 dias. A gravação é feita por equipamentos específicos e é ininterrupta.
