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(Brasília - DF, 07/08/2019) Encontro com Deputado Rodrigo Maia, Presidente da Câmara dos Deputados; Alexandre de Moraes, Ministro do Supremo Tribunal Federal; e Deputado Fábio Faria (PSD-RN). Foto: Marcos Corrêa/PR

Xposed: Com ações contra Alexandre de Moraes, Bolsonaro aumenta a exposição negativa do STF e ministros

A tentativa do presidente Jair Bolsonaro (PL) de processar o ministro Alexandre de Moraes, do Supremo Tribunal Federal (STF), e o pedido de investigação contra o magistrado feito junto à Procuradoria-Geral da República (PGR), é apontado no governo federal como parte de uma estratégia eleitoral do chefe do Executivo. O objetivo seria descredibilizar adversários e desafetos, o que inclui o magistrado, e aquecer a base mais fiel, avaliam interlocutores.



O termômetro político do Planalto mostra que existe uma rejeição do STF e de parte de seus ministros — o que Moraes seria um dos principais alvos — junto à população. Não à toa, interlocutores apontam que Bolsonaro não sai politicamente fragilizado quando diz, por exemplo, que pode haver fraude nas urnas e associar isso ao Tribunal Superior Eleitoral (TSE), que será presidido por Alexandre Moraes durante as eleições de outubro.

A estratégia encampada por Bolsonaro tem sido calibrada com o passar das últimas semanas. Em março, por exemplo, a leitura majoritária no Planalto era de que ele não “esticaria a corda” com ministros do STF sob o risco de comprometer articulações políticas com partidos de centro. Naquele mesmo mês, ele admitiu ser aconselhado a evitar temas polêmicos envolvendo magistrados.

A nova tática de descredibilizar oponentes, apesar de ser vista no Congresso por alguns como um tensionamento na relação entre os poderes, tem, portanto, um cálculo político por trás, a ponto de nem todos no Centrão se oporem. O líder do governo na Câmara, Ricardo Barros (PP-PR), defendeu a investida contra Moraes em entrevista à CNN Brasil sob a defesa de que “o ativismo do Judiciário precisa ser combatido de forma enérgica”.

O intuito do governo é agravar a rejeição do STF e do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT), que já foi preso por corrupção, seu principal adversário nas urnas. Com o consequente efeito que isso gera sobre a polarização e a pressão sobre o centro político, que, para o governo, elimina a possibilidade de fortalecimento da chamada terceira via, interlocutores apontam que ele pode até mesmo resgatar votos.

Como a estratégia de Bolsonaro mira a rejeição de Lula e o que pensam aliados

No momento, o foco de Bolsonaro está mais voltado em consolidar votos de eleitores que tenham se desgarrado do governo. É reconhecido no Planalto que, hoje, ele não conta com o mesmo apoio que tinha até os dois primeiros anos da gestão.

Por isso, ele busca votos entre conservadores e cristãos que flertam com a terceira via, e até mesmo entre eleitores mais ideológicos que, por ventura, tenham se desiludido com o presidente por entender que ele deveria ter adotado alguma postura mais incisiva contra o STF.

A maneira usada por Bolsonaro para buscar esses votos segue diferentes formas, mas todas permeiam uma mesma estratégia: a exposição gratuita concedida pela mídia quando ele eleva o tom. O presidente segue uma linha que vai desde dar declarações contestando a segurança do processo eleitoral, até mesmo a um processo e pedido de investigação contra um ministro do STF. Segundo a CNN Brasil, Bolsonaro cogita até mesmo acionar Moraes em alguma Corte internacional.

Em determinados momentos, Bolsonaro já associou as suspeitas que ele têm em relação ao sistema eleitoral com o PT e o TSE, como na segunda-feira (16), na abertura da feira do setor supermercadista de São Paulo, a Apas Show. Ele comentou uma reunião do senador Jaques Wagner (PT-BA) com embaixadores dos Estados Unidos e da França para discutir uma espécie de “cerco internacional pró-legalidade”, segundo noticiou o jornal O Globo.

“Quem está dando essa certeza para ele [de que Lula vencerá as eleições]? É o inexpugnável TSE?”, declarou Bolsonaro. “A alma da democracia é o voto. O TSE convida as Forças Armadas a participar do processo. As Forças Armadas levantam mais de 600 vulnerabilidades”, acrescentou. Ele também comentou as recomendações dos militares que foram rejeitadas pela Corte e defendeu que “quanto mais transparente, melhor”. A pré-campanha presidencial tem mais o intuito de tentar fragilizar Lula e elevar sua reprovação junto à sociedade do que em aumentar os índices de aprovação do presidente.

Parte dos aliados da base política têm outra compreensão e defendem a adoção mais frequente de discursos econômicos e um tom mais moderado. Já outros apoiam a postura mais combativa e avaliam que ele pode moderar o discurso em julho, a partir do início das convenções. Há um entendimento no governo de que Bolsonaro ainda tem tempo para aquecer sua base mais “raiz” e resgatar votos durante a pré-campanha com a estratégia de polarizar e descredibilizar.

O deputado federal Coronel Tadeu (PL-SP), vice-líder do partido na Câmara, entende que alguns aliados queiram uma postura mais amena e a adoção de outras falas no discurso de Bolsonaro. Mas ele enxerga uma estratégia eleitoral por trás das declarações do presidente e não discorda da decisão de gerar fatos novos diários.

“Tem que chamar a atenção desses canais e sites nem que seja para publicar notícia ruim. É absolutamente igual à estratégia do [Donald] Trump [ex-presidente dos EUA]”, diz. Para Tadeu, Bolsonaro busca exposição em grandes emissoras de rádio e TV para virar votos, mesmo entre o chamado eleitor mediano, que é mais pragmático e menos afeito à agenda ideológica.

“Qual é a forma de alcançar uns 20 ou 30 milhões de eleitores que não estão 100% ‘plugados’ na política e nas redes sociais? É mostrando, por exemplo, que o Bolsonaro esteve em Sergipe entregando título de terra e xingou o Supremo. São duas informações, sendo que uma delas é uma agenda positiva”, avalia. Tadeu entende que a imprensa não costuma ceder muitos espaços sobre as agendas do presidente quando não há polêmica e que esse tipo de estratégia não é recente.

O aliado de Bolsonaro lembra de uma agenda cumprida pelo presidente na inauguração de uma ponte sobre o Rio Madeira, no distrito de Abuanã (RO), em que dirigiu uma motocicleta com o ex-ministro da Infraestrutura, Tarcísio de Freitas, na garupa. Em outro momento, deu carona ao empresário Luciano Hang, dono da Havan.

“Para que a imprensa noticiasse esse episódio, o próprio presidente teve a sacada de fazer o trajeto sem nenhum deles usando o capacete, pois sabia que, assim, seria noticiado”, exemplifica Tadeu. “Ele é estrategista, o duro para alguns é entender o xadrez dele”, complementa.

Já o deputado federal Bibo Nunes (PL-RS), também vice-líder do partido, não acha que Bolsonaro tenha incorporado alguma estratégia eleitoral em seus discursos, mas analisa que eventuais bônus eleitorais são inerentes às falas. “Todo o ato do presidente se reverte em benefício ou malefício eleitoral. Ele é julgado eleitoralmente por isso. No caso de processar o Alexandre [de Moraes], algo que ele tem todo o direito de fazer como cidadão, acredito que ele ganha muito”, diz.

Gazeta do Povo